Urana
feminismos, pirataria, subteorias, políticas monstruosas, movimentos de vida, multidões, artivismo, lutas anômalas, saberes desobedientes e dissidência
Manifesta

Já quase não me atingem os pensamentos que não descem até o chão.

E estou cansada da filosofia que não passa pelos quadris, não treme o corpo e nem bate cabelo.

É preciso ralar a cuceta na teoria e, de um tal modo, ralar também a teoria na cuceta, conduzir a enunciação devagarinho até embaixo, embaixo, embaixo…

É preciso conectar drasticamente a dança do korpo com a produção de saber, e por extensão, atravessar pensamento e vida.

Porque a racionalidade viril do pensamento-cabeça, por todos os lados, torna evidente o quão estéril se tornou: já estamos diante de uns mundos os quais é impreciso pensar enquanto sistema, estrutura, hegemonia.

Quero, com este rebolado, inviabilizar a emergência de mais ficções macropolíticas acerca de um mundo único, centralizado e coeso.

Assim é que este pensamento-dança é tanto um ato de fé na proliferação de redes em cenários molecularizados (ou de um mundo inteiramente micropolítico, mundo multiplicado), quanto uma máquina de guerra que investe contra toda hegemonia: contrabandeia, sampleia, trafica, pirateia, rouba, desloca, recria…

E faz festa onde não há festa; teoria onde não há teoria.

Descentramento do descentrado, minorização do já menor – pensar como molécula e criar um saber que se perde no mapa, um saber que procura despistar o poder que o assimila para reencontrar a potência que o desloca incessantemente e que o faz vivo.

Feminismos até o chão!

De-colonialidade até o chão!

Teoria Cuir até o chão!

Estudos Pós-coloniais até o chão!

Epistemologia até o chão!

Indisciplina até o chão!

Subteorias até o chão!